Os
católicos sempre encontraram uma maneira de se livrar da acusação de serem
idólatras. Quando pressionados com textos bíblicos sobre seu modo de culto
prestado a Deus, aos santos, às imagens, às relíquias, à eucaristia e à Maria,
prontamente respondem que não levamos em conta a cuidadosa distinção de culto
feita pela Igreja Católica para não incorrer neste pecado.
Os eruditos católicos precisam fazer esta distinção, pois, sem ela, não
poderiam escudar-se quando pressionados com a acusação de idolatria. Com esta
nuança de palavras, sentem-se livres para prosseguir com seus sofismas
teológicos. Diante das severas advertências bíblicas, foi necessário
fabricar-se uma tríplice distinção entre o que eles classificam “latria”, que
seria o grau mais alto de adoração, “hiperdulia”, um grau abaixo daquele (tido
como veneração a Maria) e superior à “dulia”, também veneração, mas prestada
aos santos e aos objetos relacionados a tais santos, como, por exemplo, as
imagens.
Os católicos dizem que prestam unicamente o culto de “latria” a Deus e o culto
de “dulia” aos santos, sem incorrerem no risco de confundi-los. Contudo, esta
“cuidadosa” diferença desaparece na prática. Vejamos, mais à frente, como ela
tende a se confundir no desenrolar do culto que o devoto católico presta.
O papa Gregório estava errado quando disse que “as imagens são os livros dos
ignorantes”. A bem da verdade, as imagens são mais eficazes para cegar os olhos
espirituais destas pessoas e, conseqüentemente, deixá-las mais ignorantes
ainda, do que para tirá-las desta condição.
Quando a imagem de algum “santo” cai no chão e quebra, o devoto não diz apenas
que a imagem se quebrou, mas afirma ter quebrado o próprio santo, seja ele
Antônio, Benedito, Jorge, José, entre outros, repetindo assim o episódio de
Labão, que acusou Jacó de roubar não só suas imagens, mas seus “deuses” (Gn
31.30).
Imagine um católico fazendo a oração que segue,
curta e fervorosa, diante do quadro da sagrada família — Jesus, Maria e José.
Meu Jesus, misericórdia.
Doce coração de Maria, sede a minha salvação.
Jesus, Maria, José eu vos dou meu coração e minha alma.
Jesus, Maria, José assisti-me na última agonia.
Jesus, Maria, José, expire a minha alma entre vós em paz.
Amém.
Perguntamos: Qual é o católico que consegue fazer a distinção entre “latria”,
“dulia” e “hiperdulia” quando se prostra para rezar fervorosamente perante os
três personagens do quadro? Como bem expressou a pesquisadora de religiões,
Mary Schultze: “a mão-de-obra é grande demais!”
Como quase todas as invenções doutrinárias do catolicismo através dos séculos
têm seu embrião no paganismo, esta suposta distinção entre um culto e outro não
é uma exceção. Os pagãos rodeados por seus muitos deuses e intercessores
fizeram uma hierarquia de culto para eles, distinguindo entre divindades
maiores e divindades menores. A Roma papal, cópia fiel do paganismo, também
procedeu do mesmo jeito. Isto nos traz à memória um texto bíblico em que aparece
uma situação análoga: “Assim estas nações temiam ao SENHOR e serviam as suas
imagens de escultura; também seus filhos, e os filhos de seus filhos, como
fizeram seus pais, assim fazem eles até o dia de hoje” (2Rs 17.41; grifo do
autor).
O correto uso dos vocábulos da Bíblia
Os termos gregos dulia e latria não têm nenhuma semelhança com a definição que
lhes dá o catolicismo. Podemos desmontar este arcabouço doutrinário levantado
pela teologia romanista simplesmente recorrendo ao original grego do Novo Testamento.
Dulia: é derivado do verbo grego douléuo, cujo equivalente é “servir”, “ser
escravo”, “subserviente”. Este verbo é usado para expressar o nosso dever de
servir a Deus, e aparece em passagens como:
Mateus 6.24
“Ninguém pode servir (douleuein) a dois senhores...”
Atos 20.19
“Servindo (douleuôn) ao Senhor com toda a humildade...”
Romanos 12.11 (V. tb. 14.18)
“Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo
(douleuontes) ao Senhor”
Latria: o termo aparece nas escrituras gregas cristãs como adoração como culto,
ritos, cerimônias, serviços exteriores. Vejamos alguns exemplos de seu uso:
João 16.2
“Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar
cuidará fazer um serviço (latreian) a Deus”.
Romanos 9.4 (V. tb.12.1)
“Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças,
e a lei, e o culto (latreia), e as promessas”
Hebreus 9.6 (V. tb. 9.1)
“Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes
no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços (latreias)”
A palavra comumente usada na Bíblia Sagrada para adoração é proskyneo, cujo
significado, entre outros, é prostrar-se e adorar, e não latreia. Vejamos:
Mateus 4.10
“Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu
Deus adorarás (proskunêseis), e só a ele servirás (latreuseis)”
Tanto o culto de latria quanto o de dulia devem ser prestados somente a Deus, e
a mais ninguém. Somente diante de Deus devemos nos prostrar e somente a Ele
devemos servir. Portanto, servir a alguém em sentido religioso que não seja o
próprio Deus é declaradamente idolatria, e foi essa a censura do apóstolo Paulo
quando escreveu aos gálatas reprovando a vida idólatra que outrora levavam.
“Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são
deuses” (Gl 4.8).
No original grego aparece a palavra dulia. Era justamente este o tipo de culto
que os gálatas prestavam aos seus deuses, mas nem por isso Paulo os poupou de
serem chamados de idólatras.
Aos tessalonicenses, o apóstolo diz o seguinte: “Porque eles mesmos anunciam de
nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos
convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1Ts 1.9).
Diante disso, entendemos que o culto de dulia deve ser prestado com
exclusividade a Deus, ficando claro que o apóstolo, ao usar o termo dulia,
condena esta superstição com a mesma força com que a condenaria com o termo
latria” (Institutas, livro I, cap. 12).
O que é hiperdulia?
A definição do dicionarista para o prefixo hiper é: “posição superior; além;
excesso”. Será que com o culto de hiperdulia os católicos não estariam
cultuando a Maria acima e além de Deus e, conseqüentemente, transformando-a em
um ídolo? As Escrituras nunca registram uma hiperdulia para Deus, mas apenas a
dulia, já os católicos querem prestar a Maria um culto ou serviço superior ao
que é prestado ao próprio Deus, ou seja, uma hiperdulia!
Para que nenhum católico diga que estamos jogando com as palavras para acusá-lo
falsamente, vejamos o que afirma o livreto intitulado “Com Maria rumo ao novo
milênio”, da editora Paulus:
“Houve um tempo em que os católicos veneravam demais os santos. Esqueceram-se
um pouco de Jesus. Ele até parecia um santo ao lado dos outros...” (p. 13;
grifo do autor).
Evidências disso são os títulos “santóides” conferidos a Jesus, tais como: “São
Bom Jesus dos Milagres” e “Senhor Jesus do Bonfim”, entre outros.
Se isto não for idolatria, então não sabemos mais o que poderia ser!
Todavia, os fatos falam por si só. E a questão em pauta envolve fatos, e não
nomes. Alguém já disse que “contra fatos não há argumentos”. Não adianta querer
esconder a situação espiritual em que os católicos se encontram com sutilezas e
supostas distinções de palavras. Suas práticas constituem-se em atos de
adoração explícita, ou seja, quando um católico se prostra diante de uma imagem
de Maria e lhe faz pedidos, isto é idolatria.
Onde está a diferença da qualidade do culto que prestam a Deus, aos santos ou a
Maria e suas imagens? Ela desaparece por completo no desenrolar da adoração do
fiel.
Por tudo isso é que não podemos aceitar a sutileza usada pelos teólogos
católicos para diferenciar os tipos de culto que prestam em seus “arraiais”.
Oremos para que o Espírito Santo conceda-lhes oportunidades de reconhecer, em
tempo oportuno, aquele que é o único digno de adoração. De verdadeira adoração!
Por
Paulo Cristiano da Silva
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